O Rio Grande do Norte tomou parte ativa no evento, seja aqui
mesmo, nas terras potiguares, através da ação de André de Albuquerque Maranhão,
Senhor de Cunhaú; seja por meio de um natalense ilustre que foi protagonista
dos acontecimentos revolucionários no Recife. E este cidadão – um sacerdote da
Igreja – atendia pelo nome de Miguel Joaquim de Almeida Castro, o Padre
Miguelinho.
Por ter empenhado sua honra em cada momento da Revolução, Padre Miguelinho é
justamente homenageado pela História e também em alguns lugares bem conhecidos
de Natal, sua terra de nascimento. Padre Miguelinho dá nome a uma importante
escola pública situada no Alecrim, a uma Loja Maçônica e ao prédio da
Câmara Municipal de Natal, além de ser o único potiguar citado no Hino do Rio
Grande do Norte
Professor de retórica do Seminário de Olinda e Secretário Geral do Governo
Provisório estabelecido em Pernambuco, Padre Miguelinho contribuiu com sua
erudição, sabedoria e ideais de liberdade para o movimento que tinha por
objetivo estabelecer uma terra livre e independente, sediada no atual Nordeste
brasileiro. Do início vitorioso ao fim derrotado, Padre Miguelinho portou-se
com toda dignidade. Quando havia animosidade do povo com os portugueses,
Miguelinho buscou a pacificação para que a nova pátria surgisse sob o signo da
comunhão entre brasileiros e estrangeiros. Na famosa “Proclamação ao povo”,
divulgada logo após a nomeação do Governo Provisório em 8 de março de 1817,
coube a Padre Miguelinho fazer o anúncio oficial, que terminava dizendo que “A
Pátria é a nossa mãe comum, vós sois seus filhos, sois descendentes dos
valorosos lusos, sois portugueses, sois americanos, sois brasileiros, sois
pernambucanos”.
Caindo a Revolução depois da reação da Coroa portuguesa, os líderes do
movimento foram presos e enviados para serem julgados na Bahia. Dentre os
presos estava Padre Miguelinho, que antes de ser levado acorrentado conseguiu,
junto com sua irmã Clara Castro, queimar uma grande quantidade de papéis que
incriminavam muitos dos seus companheiros, livrando-os da morte. No julgamento,
porém, havia boa vontade por parte do tribunal, apesar da grave acusação de
crime de lesa-majesta, cuja pena era o fuzilamento. Mesmo assim, Padre
Miguelinho manteve-se em silêncio, recusando-se a se defender, tamanha era a
convicção com que havia tomado parte no levante. Então o juiz, na real intenção
de salvar a vida de Miguelinho, indagou se por acaso as assinaturas nos papéis
que o denunciavam não poderiam ter sido falsificadas por algum inimigo a fim de
prejudicá-lo. Padre Miguelinho se levantou, apontou para os papéis e, com a
cabeça erguida, disse que as assinaturas eram autênticas, e que numa delas a
última letra do seu nome tinha saído pela metade pois havia acabado o papel.
Sem mais ter o que oferecer para livrá-lo da condenação, o juiz mandou Padre
Miguelinho para ser fuzilado.
Assim, por seu exemplo de coragem, dignidade e civismo, Padre Miguelinho deve
ter a memória reverenciada não só neste Bicentenário da Revolução de 1817, mas
ser permanentemente colocado no lugar de destaque no rol daqueles norte
riograndenses que deixaram o exemplo luminoso de qual é o papel e a postura do
homem que toma a dianteira dos grandes acontecimentos de cada tempo.
MEMORIAL
LEGISLATIVO
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